O vice dos USA admite
Enviado: 19 Mar 2025 22:57
Olá!
Texto de Arnaud Bertrand.
Esta é realmente uma admissão extraordinária para um vice-presidente dos EUA
Vance explica que "a ideia da globalização era que os países ricos subiriam na cadeia de valor enquanto os países pobres fariam coisas mais simples".
Mas ele lamenta que não tenha funcionado bem assim: como ele explica, acontece que os países pobres (principalmente a China) não queriam permanecer apenas como mão de obra barata para sempre e começaram a subir na cadeia de valor eles mesmos. É por isso que, segundo ele, a globalização foi um fracasso.
Isso significa que o objetivo da globalização não era reduzir as desigualdades globais, mas sim mantê-las, instituir um sistema de hierarquia econômica permanente em que os países ricos manteriam seu domínio sobre os setores mais lucrativos, enquanto relegariam os países pobres à subordinação perpétua na produção de menor valor.
Isso é basicamente tudo o que você precisa saber para explicar 90% da política externa dos EUA nos últimos anos: o pensamento colonial está vivo e bem, e a mudança de estratégia dos Estados Unidos nos últimos anos — afastando-se do antigo "Consenso de Washington" de mercados "livres" em direção a uma tentativa muito mais aberta de conter e restringir o desenvolvimento da China — decorre precisamente dessa mentalidade.
De controles de exportação de semicondutores a restrições de investimento, essas políticas não são sobre "segurança nacional" em nenhum sentido genuíno - elas são sobre tentar preservar uma ordem econômica global onde, simplesmente, as nações mais pobres sabem seu lugar designado e permanecem lá. No cerne, essa é a "ameaça da China": uma China que saiu da faixa econômica designada a ela pelo Ocidente.
É profundamente irônico quando você pensa nisso: um jogo global supostamente projetado para "espalhar princípios de mercado" pelo mundo está sendo abandonado precisamente porque funcionou muito bem. Quando a China teve mais sucesso do que o esperado, a resposta não foi celebrar a validação da eficácia do jogo, mas mudar suas regras. Precisamente porque o verdadeiro jogo não falado - mas agora claramente declarado pelo vice-presidente dos EUA - era manter a desigualdade global, não eliminá-la.
No geral, caso ainda não tenham recebido o memorando, isso envia uma mensagem muito clara ao mundo em desenvolvimento: o desenvolvimento econômico exigirá desafiar uma ordem econômica dominada pelos EUA que vê seu avanço como uma ameaça em vez de um sucesso. O que, incidentalmente, é o motivo pelo qual as palavras de Vance podem realmente ajudar a acelerar a própria redistribuição do poder econômico global que ele lamenta, pressionando mais nações a reconhecer que o desenvolvimento genuíno requer independência estratégica de um sistema destinado a mantê-las em seu lugar.
Saudações,
Itamar M. Lins Jr.
Texto de Arnaud Bertrand.
Esta é realmente uma admissão extraordinária para um vice-presidente dos EUA
Vance explica que "a ideia da globalização era que os países ricos subiriam na cadeia de valor enquanto os países pobres fariam coisas mais simples".
Mas ele lamenta que não tenha funcionado bem assim: como ele explica, acontece que os países pobres (principalmente a China) não queriam permanecer apenas como mão de obra barata para sempre e começaram a subir na cadeia de valor eles mesmos. É por isso que, segundo ele, a globalização foi um fracasso.
Isso significa que o objetivo da globalização não era reduzir as desigualdades globais, mas sim mantê-las, instituir um sistema de hierarquia econômica permanente em que os países ricos manteriam seu domínio sobre os setores mais lucrativos, enquanto relegariam os países pobres à subordinação perpétua na produção de menor valor.
Isso é basicamente tudo o que você precisa saber para explicar 90% da política externa dos EUA nos últimos anos: o pensamento colonial está vivo e bem, e a mudança de estratégia dos Estados Unidos nos últimos anos — afastando-se do antigo "Consenso de Washington" de mercados "livres" em direção a uma tentativa muito mais aberta de conter e restringir o desenvolvimento da China — decorre precisamente dessa mentalidade.
De controles de exportação de semicondutores a restrições de investimento, essas políticas não são sobre "segurança nacional" em nenhum sentido genuíno - elas são sobre tentar preservar uma ordem econômica global onde, simplesmente, as nações mais pobres sabem seu lugar designado e permanecem lá. No cerne, essa é a "ameaça da China": uma China que saiu da faixa econômica designada a ela pelo Ocidente.
É profundamente irônico quando você pensa nisso: um jogo global supostamente projetado para "espalhar princípios de mercado" pelo mundo está sendo abandonado precisamente porque funcionou muito bem. Quando a China teve mais sucesso do que o esperado, a resposta não foi celebrar a validação da eficácia do jogo, mas mudar suas regras. Precisamente porque o verdadeiro jogo não falado - mas agora claramente declarado pelo vice-presidente dos EUA - era manter a desigualdade global, não eliminá-la.
No geral, caso ainda não tenham recebido o memorando, isso envia uma mensagem muito clara ao mundo em desenvolvimento: o desenvolvimento econômico exigirá desafiar uma ordem econômica dominada pelos EUA que vê seu avanço como uma ameaça em vez de um sucesso. O que, incidentalmente, é o motivo pelo qual as palavras de Vance podem realmente ajudar a acelerar a própria redistribuição do poder econômico global que ele lamenta, pressionando mais nações a reconhecer que o desenvolvimento genuíno requer independência estratégica de um sistema destinado a mantê-las em seu lugar.
Saudações,
Itamar M. Lins Jr.